segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Entrevista: Incontinência Urinária - Dr. Braulio Passos

Estima-se que mais de de 50 milhões de mulheres no mundo inteiro sofram com incontinência urinária. No Brasil esse número chega a 6 milhões. Os números devem ser bem maiores do que as estatísticas demonstram, porque as mulheres relutam em discutir este assunto com os médicos.
Vamos quebrar esse tabu!
Conheça um pouco mais sobre a incontinência urinária, diagnóstico e formas de tratamento, através de uma entrevista exclusiva que o urologista Braulio Passos concedeu ao Blog do Projeto MMUSA.
POR ANALAURA CASTRO mmusa@profemme.com.br

Dr. Braulio Passos - Urologista
Foto: Revista Referência Médica e Saúde 2010 - Jornal Bom dia



1) Blog MMUSA - Dr. Braulio, poucas pessoas possuem conhecimento sobre a incontinência urinária (IU). Esclareça ao público do blog do Projeto MMUSA sobre esse distúrbio.

Dr. Braulio  - Incontinência urinaria (IU) é a perda de urina involuntária, podendo levar a problemas sociais, higiênicos e sexuais. A incontinência urinaria não é uma doença e sim um sintoma que pode corresponder a diferentes tipos de doenças da bexiga. A incidência da (IU) aumenta com a idade chegando a 25% das mulheres após a menopausa e 10% deverão ser submetidas a cirurgia para correção da incontinência urinaria.
Para esvaziar a bexiga é necessário uma coordenação entre os músculos que contraem a bexiga e os músculos que fecham a uretra chamados de esfíncteres  (como se fossem um torneira). Os esfíncteres estão localizados na base da bexiga e na parede da uretra. Quando o esfíncter relaxa, ele libera a passagem de urina. No mesmo momento o músculo da bexiga contrai, expulsando a urina para fora da bexiga. Quando terminamos de urinar, os esfíncteres se fecham e a bexiga para de contrair.
O mecanismo parece simples, mas para que ele funcione adequadamente, é necessário que uma complexa rede de neurônios e músculos para que trabalhem em total sintonia, caso contrário a micção ou o armazenamento de urina se tornam comprometidos.

2) Blog MMUSA - O problema atinge homens, mulheres e crianças, mas porque o público feminino é o mais afetado?

Dr. Braulio - A maior incidência de (IU) ocorre nas mulheres, principalmente devido à anatomia da musculatura que forma o assoalho pélvico, que é um conjunto de músculos que fica na parte inferior da pelve e que da a sustentação aos órgãos como útero, bexiga, uretra, reto e outros e ajuda a manter a sua forma e a realizar suas funções adequadamente.


3) Blog MMUSA - O que pode levar a mulher a desenvolver a incontinência urinária (IU)? Quais as principais causas?

Dr. Braulio - Principalmente o parto, a menopausa, as cirurgias para a retirada do útero (Histerectomia), traumas da região pélvica, que podem tornar os músculos deficientes e com o esforço ou  atividade física podem causar a liberação de urina.


4) Blog MMUSA - Existem vários tipos de IU. Quais são os sintomas relacionados à cada um deles?

Dr. Braulio - Os tipos mais comuns de incontinência urinária:

a.    Incontinência Urinária de Esforço

A Incontinência Urinária de Esforço ocorre devido a uma deficiência no suporte da bexiga e da uretra que é feito pelos músculos do assoalho pélvico ou por uma fraqueza ou lesão do esfíncter uretral. Essa condição leva a perda de urina quando você faz esforços com o abdômen, tais como tossir, espirrar, correr, rir, pegar peso, levantar ou até mesmo andar.



b.    Incontinência Urinária por Urgência

A Incontinência Urinária por Urgência acontece quando a bexiga contrai sem o seu comando chamada de bexiga hiperativa. Você pode sentir como se não conseguisse chegar ao toalete, um súbito desejo de urinar que pode ou não ser controlado. E algumas vezes, você pode perder urina sem nenhum aviso. Existem várias causas para essa condição.
A bexiga pode tornar-se hiperativa devido uma infecção urinária que irrita a mucosa da bexiga ou por alterações nos nervos que normalmente controlam a bexiga.
Em muitos casos, a causa pode não ser detectada.
     
      c.  Incontinência Urinária Mista

A Incontinência Urinária Mista é uma combinação das duas condições anteriores.
    
     d.  Incontinência Urinária por Transbordamento

A Incontinência Urinária por Transbordamento ocorre quando a bexiga não é esvaziada por longos períodos, tornando-se tão cheia, que a urina simplesmente transborda. Isso pode acontecer quando existe uma diminuição da sensibilidade da bexiga (você não percebe que a bexiga está cheia), quando existe uma fraqueza do músculo da bexiga ou obstrução na uretra que dificulta o esvaziamento normal. A principal causa de incontinência por transbordamento é um aumento da próstata com obstrução da uretra. Por essa razão, este tipo de incontinência é mais comum no homem. A fraqueza do músculo da bexiga e a diminuição da sensibilidade pode ocorrer em ambos, homens e mulheres, mas isso é mais comum em pessoas com diabetes, uso crônico de álcool e outros problemas que levem à diminuição da função neuronal.

     e.  Enurese Noturna

Enurese Noturna é a perda de urina que ocorre durante o sono.


5) Blog MMUSA - Quando uma mulher o procura dizendo que perde urina involuntariamente, como o caso é orientado?

Dr. Braulio - Devemos fazer o diagnostico do tipo de IU, verificando se a paciente apresenta incontinência urinaria de esforço ou bexiga hiperativa ou incontinência por transbordamento ou enurese, isto é, cada paciente tem que ser estudada através da sua queixa clínica, devendo ser submetida ao exame físico completo, exames laboratoriais, provas de função urinaria e teste urodinamico, que é o estudo da resposta da micção através de um aparelho especifico. A partir desse diagnóstico devemos fazer o tratamento adequado para cada caso.       


6) Blog MMUSA - Cirurgias, medicamentos, reeducação dos hábitos miccionais, fisioterapia uroginecológica, são alguns dos recursos para o tratamento da IU. Qual a indicação mediante cada tipo de incontinência?

Dr. Braulio - Primeiro devemos classificar a IU e propor a cada caso o tratamento mais adequado. Inicialmente medidas gerais como perda de peso em algumas pacientes, parar de fumar para diminuir a tosse, tratar constipação intestinal, verificar o uso de alguns medicamentos que podem interferir na IU.
 Podem aliviar ou minimizar os sintomas com o uso de medicamentos, fisioterapia uroginecológica para o assoalho pélvico.
A fisioterapia consistem em orientações sobre o funcionamento da bexiga e da musculatura pélvica, mudanças comportamentais no hábito urinário e exercícios passivos e/ou ativos para a musculatura do assoalho pélvico. Estes exercícios visam fortalecer o esfíncter uretral para diminuir as perdas. Alguns exercícios são realizados com auxílio de eletroestimulação, que também tem ação sobre os nervos do assoalho pélvico, podendo ajudar pacientes com bexiga hiperativa. Outro tratamento é o uso de cones intravaginais com pesos diferentes.

Para aquelas pacientes que não querem ser submetidas a tratamento cirúrgico, podemos realizar a aplicação de materiais de preenchimento (colágeno, silicone, ac. hialuronico etc.), porém esses pacientes devem ser orientados de que a eficácia e a duração dos seus efeitos é inferior ao da cirurgia. Nos casos mais graves ou quando não respondem ao tratamento fisioterápico é indicado o procedimento cirúrgico que pode ser a cirurgia convencional através de incisão abdominal ou vaginal com o intuito da elevação da bexiga e sustentação do assoalho pélvico. Um dos tratamentos mais mordernos para a incontinência urinária de esforço (IUE) e que são menos invasivos seria  o “Sling” vaginal, que são suspensórios colocados ao redor da uretra e que mantem a sustentação da mesma. Devemos informar sobre os diferentes materiais para a confecção do ‘Sling”, assim como seus benefícios e riscos. Esses materiais  podem ser retirados da própria paciente como o tecido aponeurótico (corresponde ao tendão dos músculos) ou de materiais sintéticos e biológicos.  Durante o procedimento é importante o acompanhamento com aparelhos endoscópicos para identificar eventuais complicações intraoperatorias.


7) Blog MMUSA - O que os últimos congressos científicos nos traz de novidade em diagnóstico e tratamento na área?

Dr. Braulio - A evolução no tratamento da IU é muito grande nos últimos anos. Muitas vezes essa eficiência se dá com materiais mais adequados, como por exemplo os “mini-slings”, que são menores que os habituais,melhorando a técnica, e está em desenvolvimento  até um marca passo para o controle da musculatura da bexiga, chamado de Interstim. Essa nova terapia consiste no implante de um marca passo próximo aos nervos que vão para a bexiga e provavelmente estará disponível em breve no Brasil.



8) Blog MMUSA - Muitas pacientes possuem medo ou vergonha de relatar ao médico o escape de urina, e convivem com o distúrbio "anos a fio", usando absorvente íntimo, fraldas e limitando-se socialmente, podendo desencadear problemas emocionais e até levar a depressão. Qual o seu recado para essas mulheres?

Dr. Braulio - A IU é uma patologia que provoca distúrbios sociais, higiênicos e sexuais e também sabemos que existe tratamento adequado e que deve ser individualizado para cada caso, por isso nós recomendamos que as pacientes que sofrem desse sintoma procurem o seu medico e solicite uma orientação especifica para o seu caso. *

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